Feira de Fragmentos

Quando os autores falam por e para nós.

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Local: do mundo, Brazil

sexta-feira, agosto 25, 2006

Sobre amores frívolos da televisão.

Amores construídos sobre histórias complicadas, cheias de lirismo e desalento. Dessas irreais com as quais a gente sonha todos os dias e que quando trazemos pra perto, cá na realidade doída do cotidiano, não existem, mas com as quais a gente sonha e dorme mais tranqüila por poder pensar que aquilo um dia passe a existir. E talvez até exista, ao menos na vida daquelas pessoas mais afortunadas, as quais duvido da existência todos os dias.
Porque a gente, agora, foi feito pra acreditar nas relações mais perecíveis que a gente podia imaginar e faz com que a gente deposite nossas esperanças nos menores detalhes, para suprir aqueles que não acontecem. E tocam as músicas, em harmonia com os sonhos, aqueles que servem pra ser sonhos. E sonhos só. Porque sonho que é sonho, é sonho a vida toda. Se vira realidade é sem graça, triste e deixa de ser sonho para entrar no triste rol das coisas pelas quais a gente passa. E que inevitavelmente são, nada mais, que a realidade e, salvo raras exceções, a realidade é chata pra burro! E não servem para mais nada além de virar história. Hão de pensar que aqui jaz uma alma desencantada, frustrada, a procura de um amor encontrado no campo onírico e limitado a ele. É, talvez seja verdade, a mais pura e triste. Daquela que a gente baba quando ele passa numa cadência bonita de ver, com um jeito particular de andar e quando ele procura assunto, não acha e pega qualquer coisa por sobre a mesa e passa a discorrer elogios. E na verdade, tudo o que você quer é que ele esteja fazendo aquelas coisas que você acha que ele está querendo fazer. Mas que morre quando você resolve ser racional e pensar em motivos, ou, pelo menos, quando vc acha que está encontrando. Quando você encontra com ele no corredor, ou quando acha que a palavra é sempre falha quando sai sem querer. Aí você fuma alguns cigarros, bebe garrafas de vinho e chora. Por encontrar realidade naquilo que vc, até então, não havia materializado. Ele mereceria uma descrição mais bonita. As vezes até pelo fato de ele andar delicadamente e perceber que a gente fica vermelha quando ele chega perto e ele percebe. E começa abusar da sua timidez. Da sua falta de estrutura quando ele chega perto. Na verdade ele gosta disso. De ser olhado e perceber que deixa a gente desconcertada. O rubro da nossa tez enche o ego dele. Ao menos é o que a gente procura como explicação; e aí não há Chico Buarque que cure, nem Lexotam que amenize nossa destruição. E os pudores nos impedem de dizer o que pensamos, ou de sacanear de volta, retornando o constrangimento e mostrando quem é que controla quem. Mas a página se enche de letras e nada mais somos do que a expressão faltosa desse texto triste e melancólico.


Sobre como ele anda.

De camisa xadrez e calça jeans, com a bolsa a tiracolo ele passa. Anda de um lado para o outro, como quem não sabe o que fazer, e não o sabe. Pega um objeto imbecil e comenta sobre ele. Comentário que não cabe no momento, comentário que é pura falta do que dizer, e que a gente fica remoendo como que tentando entender. Ele tem a ginga dos que não estão nem aí para o que você pensa. E ele é jornalista e está pensando em grandes projetos para o futuro. Ele chega perto e faz uma pergunta para a qual ele já tem a resposta, mas pergunta pela falta de assunto, ou a falta de assunto que a gente acha que ele tem. Aí ele some. E por mais chato que esteja o dia , a gente encara, e reza para chegar o próximo que vc sabe que vai encontrá-lo e que vai vir com novcas perguntas imbecis e incabíveis. Mas ele não volta, pega o telefone, tem conversas intermináveis. E o máximo que vai acontecer é que você vai vê-lo desfilar pelos corredores de carpete de madeira, sutilmente. Vai conversar com alguém e perceber o quanto você fica desconcertada quando a gente dá de cara com ele e não esboça reação alguma, a não ser uma palavra idiota de descontentamento. Ele manda email, convida, prova sem querer o quanto ele é interessante. E aí não tem mais jeito, a gente sequer consegue lutar contra. Esquece aquele último da ultima semana que ligou e você até já esqueceu do que ele representou e de quantas brigas e minhocas você encarou. E tudo fica pequeno, e a gente encontra consolo no travesseiro, tão solitário quanto vc! Não livro há que baste,nem ar que sobre. O que resta é pensar no próximo que virá. A incompetência de não saber procurar é um dos males do mundo!


[Teodora Maria. Por ela mesma. Hipnotizada pra acabar de vez com essa disritmia.]